sexta-feira, 22 de junho de 2012

Conclusões Passeio no Ardila / Parque e Castelo de Noudar

 


ANÁLISE MACROSCÓPICA SIMPLES DO TROÇO DO RIO ARDILA SITUADO ENTRE A PONTE DE BARRANCOS (PEGÕES) E A FOZ DA RIBEIRA DE MÚRTEGA, E SUAS PROXIMIDADES

- Durante o percurso efectuado a pé, pela margem esquerda do Ardila, constatámos que não há sinais visíveis de poluição por detritos inorgânicos, nomeadamente plásticos e outras embalagens.
- Embora esperando encontrar algum material desse tipo, possivelmente proveniente na sua maior parte de explorações agrícolas, transportado e depositado pelo vento e enxurradas, tal não se verificou.
- Foi efectuado o seguinte percurso: Entrada na Ponte de Barrancos ou de Pegões, passagem pelo açude ou dique do Zé Machado, e pelos moinhos Perdido, Figueira e Piorneira (nomes tradicionais atribuídos pelos guias locais).
- Os moinhos encontram-se, como seria de esperar, em ruínas, tendo em conta que já não funcionam há muitos anos; estão todos num maior ou menor estado de degradação. Aparentam ainda possuir solidez, e têm sobrevivido às grandes enxurradas e intempéries. Não há sinais de vandalismo, o que poderá estar ligado a uma menor presença humana. Este facto leva a que os moinhos sirvam de abrigo a diversas espécies de insectos, répteis, aves e mesmo mamíferos. É interessante estabelecermos a relação entre a alteração da morfologia do rio derivada à existência dos moinhos e restos dos açudes que lhes continham as águas (mais profundidade, quantidade de água retida, e peixe), e a existência de lontras, cujos sinais de presença eram mais evidentes nesses locais (pegadas e dejectos. Estes continham sempre restos de lagostins de água doce).
- O Rio Ardila apresentava, à data, um nível de águas médio/ baixo, correndo entre várzeas de área significativa com afloramentos rochosos, mato e montados de azinho, onde pastava algum gado. Não foram encontrados quaisquer peixes mortos, no troço referido, nem se detectou ou presumiu abundância anormal de macro ou micro algas. A cor da água, com alguma opacidade (visibilidade entre 30cm a 1 metro), é a que habitualmente se verifica nestes rios e nesta altura do ano, arrastando ainda sedimento em suspensão.   Não foram detectados quaisquer emissários desaguando no rio, nem mesmo a partir de hipotéticas explorações agrícolas.
- Na Ribeira de Múrtega visitámos o Moinho do Porto Calçado, o Moinho do Caneiro e Porto das Canas, zona por baixo do Parque Noudar.
- A qualidade da água da Ribeira é apontada pelos residentes locais como bastante boa, e é de referir que a mesma não terá, a montante, as fontes poluidoras de natureza química e orgânica que se encontram no percurso espanhol do Rio Ardila. É de notar que a água da Fonte da Pipa, junto ao Moinho da Pipa e nesta Ribeira, é muito boa para consumo humano.
- Fauna: Durante o percurso, o grupo foi encontrando sinais evidentes de muitas espécies, pressentidas pelos seus vestígios e pistas, nomeadamente lontras, texugos, raposas, javalis e veados. Foram avistados três veados e vários abutres (gyps fulvus e aegypius monachus), próximo do Castelo de Noudar, no Ardila e no Múrtega. Foram mostrados aos participantes alguns escorpiões e onde habitualmente se podem encontrar, bem como todos os sinais visíveis deixados pelos animais maiores. Além dos grifos, os avistamentos de aves foram razoáveis, sendo os mais significativos Cegonha branca, e cegonha negra (ciconia nigra), andorinhas das rochas, garças cinzentas (ardea cinerea), e várias aves de rapina, nomeadamente uma águia-real (aquila chrysaetus), e um milhafre negro (milvus nigrans)
- A fauna aquática parece ser abundante, tendo sido avistadas, junto à margem, várias espécies piscícolas, nomeadamente achigãs, carpas, barbos, percas sol e o celebérrimo saramugo, anaecypris hispanica (Steindachner, 1866); que embora esteja considerado em perigo de extinção, parece ser abundante em todo o percurso efectuado no Rio Ardila e na Ribeira de Múrtega.
 
A situação encontrada, será, portanto, de manter.
 
Os passeios junto ao rio ou outras actividades não poluentes podem ser efectuados sem perigo de perturbação do sistema; haverá percursos que podem ser optimizados e levar o passeante a locais muito interessantes, sem interferir com a rotina da vida selvagem nalguns locais hipoteticamente mais críticos.
Finalmente, congratulamos a organização pela chamada de atenção para este local ímpar. Será de louvar todos os esforços que as autarquias promovam para manutenção da situação encontrada.


MTP Eventos.
João de Freixo Boavida (responsável pelo projeto)
David Salema e Margarida Pedrosa (engenheiros ambientais)








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