RELATÓRIO TÉCNICO/AMBIENTAL
REFERENTE À ACÇÃO DE
LIMPEZA DOS PESQUEIROS DE SAGRES
7 e 8 de Julho
Zonas limpas a vermelho
Esta acção (realizada nos dias seis, sete e
oito de Julho de 2012) tinha como objectivo limpar alguns dos pesqueiros
tradicionais de Sagres, usados já há várias gerações para a pesca à cana, e que
se encontravam muito sujos. Pretendia-se também limpar as zonas imediatamente
próximas dos pesqueiros, ou sofrendo a sua influência.
Locais
de recolha:
Zona composta pela Encosta e Praia da
Baleeira, e todos os pesqueiros da Ponta da Atalaia; zona a Norte da Estrada
Sagres - S. Vicente, compreendida entre o Beliche e a Armação Nova, inclusive,
ponto de passagem da chamada Via Algarviana; faixa de pinhal conhecida como
Pinhal das Rolas, local muito usado para pernoita e acampamento por quem
frequenta esta grande zona de pesqueiros e por outro tipo de turistas; áreas
junto ao campo de futebol e vedações das antenas da Marinha, e entre o Forte do
Beliche e o Cabo de S. Vicente, no lado sul da estrada S. Vicente-Sagres.
Tipo
de lixo recolhido:
O tipo de lixo inorgânico encontrado
habitualmente nestes locais, muito leve (sacos de plástico, garrafas em pet e
papel, na sua maioria) é espalhado constantemente pelos ventos fortes que
caracterizam Sagres, nomeadamente a Nortada.
Grande parte deste material fica retida
pela vegetação arbustiva; no entanto haverá outra parte significativa cujo
destino final é o mar.
De qualquer modo, de uma forma muito
simples e empírica, e em ordem decrescente de abundância (a quantificação é
feita pelo nº de vezes que apanhámos cada tipo de lixo e não pelo seu peso ou
volume), recolhemos (média dos diversos locais):
- Sacos
de plástico: cerca de 40%
- Garrafas
e garrafões em PET: cerca de 30%
- Materiais
em plástico (embalagens de vários tipos) : cerca de 10%
- Embalagens
de cartão/papel, e papel solto: cerca de 10%
- Outro
lixo (latas, pano, ferro, madeiras, nylon etc): cerca de 5%
- Garrafas
em vidro: cerca de 5%
Nos pesqueiros a meia encosta ou mais
abrigados dos ventos, a acumulação de detritos é enorme; por outro lado, e nas
zonas adjacentes às falésias, é vulgar encontrarem-se pontos que parecem ter
sido escolhidos para depósito de detritos.
Recolha:
O
trabalho de recolha não foi fácil, tendo em conta a Nortada forte que soprou
nos dois dias do evento; no entanto pode-se afirmar, com alguma segurança, que
as zonas sujeitas à acção dos voluntários ficaram com uma imagem completamente
diferente e bem mais agradável do que a que se observava nos dias imediatamente
anteriores.
O papel desempenhado pelos dois Vigilantes
do PNSACV e pelos Bombeiros de Vila do Bispo, nas vertentes recolha e apoio
diverso, foi essencial e incansável.
Para que este objectivo fosse conseguido,
tinham sido previamente identificados alguns locais problemáticos, quer pela
quantidade de lixo acumulada, quer pela visibilidade dos mesmos, muito expostos
a todos os turistas que aos largos milhares, visitam semanalmente o Cabo de S,
Vicente.
A zona imediatamente a Norte do Cabo, e no
troço compreendido entre o Farol e a Baía da Armação Nova, com excelentes
pesqueiros, confirmou, durante a limpeza, o que já se temia: foram retirados
muitos quilómetros de fio de nylon, monofilamento de pesca, enredado nos
arbustos e pedras.
Este fio abandonado causa sérios problemas
às aves marinhas que habitam na zona, nomeadamente as gaivotas, que
constantemente se enredam neste material, difícil de detectar visualmente
durante a noite.
É de ressalvar que as gaivotas desempenham
um papel com alguma importância na remoção de alguns detritos orgânicos por
vezes abandonados durante o acto de pesca, nomeadamente restos de engodo e
isco, e vísceras de peixe.
O lixo recolhido foi acondicionado em sacos
de plástico de 80 litros,
deixado nos pontos previamente demarcados e levantado, no próprio dia, pelo
parceiro Suma
Impacto
ambiental:
Nos dois dias de recolha não encontrámos
matérias ou quaisquer outros produtos que pela sua natureza sejam susceptíveis
de contaminar quimicamente o ar, e o solo das zonas afectas à acção de limpeza.
De qualquer forma, o tempo de intervenção
no local foi curto; fomos informados que próximo do Pinhal das Rolas haveria um
sítio sujeito a despejos continuados de óleos queimados. Não temos a
confirmação.
Contudo, e além do que recolhemos,
deparámo-nos com entulho despejado nalguns locais, impossível de retirar pelo
nosso método; é, pois, inquietante, a quantidade de material inorgânico
detectada, e o efeito mais que negativo na imagem do local.
Por outro lado, é preocupante a questão do
nylon abandonado. Se pela natureza do próprio material, a maior parte tende a
ficar agarrada a rochedos e arbustos, haverá decerto uma quantidade importante
a ser arrastada, ou mesmo voluntariamente abandonada, para o mar.
Já falamos na questão das aves marinhas e
no perigo de se enredarem nestes fios, e decerto haverá outros animais aos
quais lhes poderá suceder o mesmo, nomeadamente pequenos mamíferos e répteis.
Fauna:
Das pistas de animais observadas no local,
poderíamos concluir que a no que toca a mamíferos a zona é relativamente pobre;
vimos pegadas de coelhos e de saca-rabos (herpestes
ichneumon). E avistámos ouriços-cacheiros (erinaceus europaeus). Sabemos, no entanto, que existem outras
espécies, nomeadamente algumas invasoras recentes, como é o caso do javali, que
visita ocasionalmente a costa mais a
norte e chega a passar pela zona próxima e
a nordeste do Beliche.
No que diz respeito a aves de presa, é de
ressalvar, em toda a costa visitada, a presença do pequeno falcão peneireiro (falco tinnunculus). Foi-nos também
comunicada o avistamento de (provavelmente) um casal de falcões peregrinos. Não
pudemos confirmar.
Em relação a algumas visitas que efectuámos
em anos anteriores, constatámos uma aparente diminuição do número de corvídeos
(gralhas).
Recomendações:
Não é fácil apontar um caminho que leve a
uma rápida resolução deste problema. Os pesqueiros de Sagres, como toda a gente
sabe, têm grande afluência durante todo o ano, e maior ainda quando o peixe
encosta.
Vem gente de todo o país, que disputa entre
si e com os pescadores locais os melhores pesqueiros.
É sobretudo nessas alturas que se faz lixo,
e que o mesmo se amontoa, por falta de educação ambiental, e porque não há, na
proximidade, qualquer local próprio para recolher o mesmo.
De qualquer forma, não será o pescador
lúdico o único responsável pela situação. O movimento elevado de turistas
também deixa marcas visíveis; nem todos têm um comportamento adequado.
De qualquer forma, é de referir que as
caravanas de venda ambulante de artesanato, junto ao Farol de S. Vicente, não
são, per si, fonte de qualquer lixo,
e tentam manter o local limpo.
Repetimos o que já foi dito no relatório
inicial:
Sugerimos
que se coloquem alguns contentores específicos para a recolha desses detritos,
nomeadamente na zona da Armação Nova e junto à descida para os pesqueiros; na
vertente sul do Cabo de S. Vicente; entre a Fortaleza do Beliche e o Cabo; no
estacionamento do Campo de Futebol, entre a zona das antenas da Marinha e o
Beliche; e na Ponta da Atalaia.
Em
simultâneo, acreditamos que a colocação de vários cartazes por toda a zona,
direccionados para os praticantes de pesca lúdica, solicitando o uso dos
contentores e alertando para o perigo para o ambiente, no geral, e para as aves
marinhas em particular, resultante do abandono do fio de pesca e de outros
artefactos plásticos, além de outras recomendações de carácter ambiental, seria
uma medida com algum efeito positivo, nas vertentes prática e imediata, e na
educacional.
Por
outro lado, uma presença mais assídua e dissuasora de más práticas por parte
dos Vigilantes do Parque e Polícia Marítima, intervindo mais na prevenção do
que propriamente na repressão, seria bastante eficaz.
E acrescentamos:
A informação ao turista é essencial. As
recomendações sobre esta matéria, em várias línguas, poderão ser expostas em
pontos – chave.
Louvamos o trabalho da Junta de Freguesia
de Sagres e da Câmara Municipal de Vila do Bispo, nesta matéria.
No entanto, acreditamos que para manter
Sagres e os seus pesqueiros limpos, a vertente prevenção é tão importante como
a da recolha do lixo abandonado.
Sagres, 8 de Julho de 2012
David
Salema
Eng. do Ambiente
Margarida Pedrosa
Eng. do Ambiente