quinta-feira, 19 de julho de 2012


RELATÓRIO TÉCNICO/AMBIENTAL REFERENTE À ACÇÃO DE 
LIMPEZA DOS PESQUEIROS DE SAGRES 
7 e 8 de Julho
Zonas limpas a vermelho

Esta acção (realizada nos dias seis, sete e oito de Julho de 2012) tinha como objectivo limpar alguns dos pesqueiros tradicionais de Sagres, usados já há várias gerações para a pesca à cana, e que se encontravam muito sujos. Pretendia-se também limpar as zonas imediatamente próximas dos pesqueiros, ou sofrendo a sua influência.

Locais de recolha:

Zona composta pela Encosta e Praia da Baleeira, e todos os pesqueiros da Ponta da Atalaia; zona a Norte da Estrada Sagres - S. Vicente, compreendida entre o Beliche e a Armação Nova, inclusive, ponto de passagem da chamada Via Algarviana; faixa de pinhal conhecida como Pinhal das Rolas, local muito usado para pernoita e acampamento por quem frequenta esta grande zona de pesqueiros e por outro tipo de turistas; áreas junto ao campo de futebol e vedações das antenas da Marinha, e entre o Forte do Beliche e o Cabo de S. Vicente, no lado sul da estrada S. Vicente-Sagres.

Tipo de lixo recolhido:

O tipo de lixo inorgânico encontrado habitualmente nestes locais, muito leve (sacos de plástico, garrafas em pet e papel, na sua maioria) é espalhado constantemente pelos ventos fortes que caracterizam Sagres, nomeadamente a Nortada.

Grande parte deste material fica retida pela vegetação arbustiva; no entanto haverá outra parte significativa cujo destino final é o mar.

De qualquer modo, de uma forma muito simples e empírica, e em ordem decrescente de abundância (a quantificação é feita pelo nº de vezes que apanhámos cada tipo de lixo e não pelo seu peso ou volume), recolhemos (média dos diversos locais):

  1. Sacos de plástico: cerca de 40%
  2. Garrafas e garrafões em PET: cerca de 30%
  3. Materiais em plástico (embalagens de vários tipos) : cerca de 10%
  4. Embalagens de cartão/papel, e papel solto: cerca de 10%
  5. Outro lixo (latas, pano, ferro, madeiras, nylon etc): cerca de 5%
  6. Garrafas em vidro: cerca de 5%


Nos pesqueiros a meia encosta ou mais abrigados dos ventos, a acumulação de detritos é enorme; por outro lado, e nas zonas adjacentes às falésias, é vulgar encontrarem-se pontos que parecem ter sido escolhidos para depósito de detritos.

Recolha:

 O trabalho de recolha não foi fácil, tendo em conta a Nortada forte que soprou nos dois dias do evento; no entanto pode-se afirmar, com alguma segurança, que as zonas sujeitas à acção dos voluntários ficaram com uma imagem completamente diferente e bem mais agradável do que a que se observava nos dias imediatamente anteriores.
O papel desempenhado pelos dois Vigilantes do PNSACV e pelos Bombeiros de Vila do Bispo, nas vertentes recolha e apoio diverso, foi essencial e incansável.

Para que este objectivo fosse conseguido, tinham sido previamente identificados alguns locais problemáticos, quer pela quantidade de lixo acumulada, quer pela visibilidade dos mesmos, muito expostos a todos os turistas que aos largos milhares, visitam semanalmente o Cabo de S, Vicente.
A zona imediatamente a Norte do Cabo, e no troço compreendido entre o Farol e a Baía da Armação Nova, com excelentes pesqueiros, confirmou, durante a limpeza, o que já se temia: foram retirados muitos quilómetros de fio de nylon, monofilamento de pesca, enredado nos arbustos e pedras.
Este fio abandonado causa sérios problemas às aves marinhas que habitam na zona, nomeadamente as gaivotas, que constantemente se enredam neste material, difícil de detectar visualmente durante a noite.
É de ressalvar que as gaivotas desempenham um papel com alguma importância na remoção de alguns detritos orgânicos por vezes abandonados durante o acto de pesca, nomeadamente restos de engodo e isco, e vísceras de peixe.
O lixo recolhido foi acondicionado em sacos de plástico de 80 litros, deixado nos pontos previamente demarcados e levantado, no próprio dia, pelo parceiro Suma

Impacto ambiental:

Nos dois dias de recolha não encontrámos matérias ou quaisquer outros produtos que pela sua natureza sejam susceptíveis de contaminar quimicamente o ar, e o solo das zonas afectas à acção de limpeza.
De qualquer forma, o tempo de intervenção no local foi curto; fomos informados que próximo do Pinhal das Rolas haveria um sítio sujeito a despejos continuados de óleos queimados. Não temos a confirmação.
Contudo, e além do que recolhemos, deparámo-nos com entulho despejado nalguns locais, impossível de retirar pelo nosso método; é, pois, inquietante, a quantidade de material inorgânico detectada, e o efeito mais que negativo na imagem do local.
Por outro lado, é preocupante a questão do nylon abandonado. Se pela natureza do próprio material, a maior parte tende a ficar agarrada a rochedos e arbustos, haverá decerto uma quantidade importante a ser arrastada, ou mesmo voluntariamente abandonada, para o mar.
Já falamos na questão das aves marinhas e no perigo de se enredarem nestes fios, e decerto haverá outros animais aos quais lhes poderá suceder o mesmo, nomeadamente pequenos mamíferos e répteis.

Fauna:

Das pistas de animais observadas no local, poderíamos concluir que a no que toca a mamíferos a zona é relativamente pobre; vimos pegadas de coelhos e de saca-rabos (herpestes ichneumon). E avistámos ouriços-cacheiros (erinaceus europaeus). Sabemos, no entanto, que existem outras espécies, nomeadamente algumas invasoras recentes, como é o caso do javali, que visita ocasionalmente  a costa mais a norte e chega a passar pela zona próxima e  a nordeste do Beliche.
No que diz respeito a aves de presa, é de ressalvar, em toda a costa visitada, a presença do pequeno falcão peneireiro (falco tinnunculus). Foi-nos também comunicada o avistamento de (provavelmente) um casal de falcões peregrinos. Não pudemos confirmar.
Em relação a algumas visitas que efectuámos em anos anteriores, constatámos uma aparente diminuição do número de corvídeos (gralhas).




Recomendações:

Não é fácil apontar um caminho que leve a uma rápida resolução deste problema. Os pesqueiros de Sagres, como toda a gente sabe, têm grande afluência durante todo o ano, e maior ainda quando o peixe encosta.
Vem gente de todo o país, que disputa entre si e com os pescadores locais os melhores pesqueiros.
É sobretudo nessas alturas que se faz lixo, e que o mesmo se amontoa, por falta de educação ambiental, e porque não há, na proximidade, qualquer local próprio para recolher o mesmo.
De qualquer forma, não será o pescador lúdico o único responsável pela situação. O movimento elevado de turistas também deixa marcas visíveis; nem todos têm um comportamento adequado.
De qualquer forma, é de referir que as caravanas de venda ambulante de artesanato, junto ao Farol de S. Vicente, não são, per si, fonte de qualquer lixo, e tentam manter o local limpo.

Repetimos o que já foi dito no relatório inicial:

Sugerimos que se coloquem alguns contentores específicos para a recolha desses detritos, nomeadamente na zona da Armação Nova e junto à descida para os pesqueiros; na vertente sul do Cabo de S. Vicente; entre a Fortaleza do Beliche e o Cabo; no estacionamento do Campo de Futebol, entre a zona das antenas da Marinha e o Beliche; e na Ponta da Atalaia.
Em simultâneo, acreditamos que a colocação de vários cartazes por toda a zona, direccionados para os praticantes de pesca lúdica, solicitando o uso dos contentores e alertando para o perigo para o ambiente, no geral, e para as aves marinhas em particular, resultante do abandono do fio de pesca e de outros artefactos plásticos, além de outras recomendações de carácter ambiental, seria uma medida com algum efeito positivo, nas vertentes prática e imediata, e na educacional.
Por outro lado, uma presença mais assídua e dissuasora de más práticas por parte dos Vigilantes do Parque e Polícia Marítima, intervindo mais na prevenção do que propriamente na repressão, seria bastante eficaz.

E acrescentamos:
A informação ao turista é essencial. As recomendações sobre esta matéria, em várias línguas, poderão ser expostas em pontos – chave.
Louvamos o trabalho da Junta de Freguesia de Sagres e da Câmara Municipal de Vila do Bispo, nesta matéria.
No entanto, acreditamos que para manter Sagres e os seus pesqueiros limpos, a vertente prevenção é tão importante como a da recolha do lixo abandonado.

Sagres, 8 de Julho de 2012

David  Salema
Eng. do Ambiente
Margarida Pedrosa
Eng. do Ambiente







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